Numa prisão de liberdade, ela sempre sai.
É um sufoco. Na estada, a ficha cai.
Será mesmo que a tenho?
Não. Talvez ela me tenha.
É como se fôssemos substâncias heterogêneas:
Não viramos um.
Mas uma não vive sem a outra.
Nos completamos, sem mistura, sem costura, sem soma.
Ela sai e me leva junto. Eu saio, ela fica só.
Confinada num silêncio ensurdecedor,
ela fica ali, inerte, invisível, mas sem inexistir.
Até que eu vá lá, pegue-a pela mão
e começamos a dançar de novo.
É uma crueldade crua, nua, flagelada.
Um abandono cheio de presença.
Nos amamos culpadamente.
Até que a morte nos separe:
Pois só assim para existirmos distantemente.
Por mais que doa,
que destrinche as feridas em carne viva,
nos precisamos, nos pertencemos.
No perdão, a esperança.
Ainda que seja uma esperança desesperançosa,
desesperada, desamparada,
há meios de sempre voltar pra casa.
E em meio às colinas invernais de incerteza,
aos vinhedos com espinhos de aço,
um campo primaveril. Uma brisa, um frescor.
Nos encontramos uma vez mais
e começamos a valsear.
Em tons de alivio e contentamento,
conseguimos sorrir novamente.
Por mais efêmero,
que seja lindo e verdadeiro,
que seja leve e doce enquanto durar.
Mas acima de tudo, que sempre volte.