quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Impermanentemente, de mim.

Numa prisão de liberdade, ela sempre sai.
É um sufoco. Na estada, a ficha cai.
Será mesmo que a tenho? 
Não. Talvez ela me tenha.

É como se fôssemos substâncias heterogêneas: 
Não viramos um. 
Mas uma não vive sem a outra. 
Nos completamos, sem mistura, sem costura, sem soma.

Ela sai e me leva junto. Eu saio, ela fica só.
Confinada num silêncio ensurdecedor, 
ela fica ali, inerte, invisível, mas sem inexistir.

Até que eu vá lá, pegue-a pela mão 
e começamos a dançar de novo.
É uma crueldade crua, nua, flagelada. 
Um abandono cheio de presença.
Nos amamos culpadamente. 

Até que a morte nos separe: 
Pois só assim para existirmos distantemente.

Por mais que doa, 
que destrinche as feridas em carne viva, 
nos precisamos, nos pertencemos.

No perdão, a esperança. 
Ainda que seja uma esperança desesperançosa, 
desesperada, desamparada,
há meios de sempre voltar pra casa.

E em meio às colinas invernais de incerteza, 
aos vinhedos com espinhos de aço,
um campo primaveril. Uma brisa, um frescor.

Nos encontramos uma vez mais 
e começamos a valsear.
Em tons de alivio e contentamento, 
conseguimos sorrir novamente.
Por mais efêmero, 
que seja lindo e verdadeiro, 
que seja leve e doce enquanto durar.

Mas acima de tudo, que sempre volte.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Não, Não Sou Sua Inspiração


Houve uma época em que eu usava este blog para escrever sobre como lido com os desafios que a vida traz enquanto pessoa com deficiência em um mundo como o de hoje. 
E funcionou em todas as vezes em que eu escrevi algo que foi muitas vezes visto como orgulho e inspiração de outrem.

Mas resolvi que isso não mais me serve, pois por mais que aqueles discursos me tenham trazido um certo lisonjeio, na medida em que fui crescendo me veio um sentimento arrebatador de que o estava fazendo pelos motivos errados: Eu tinha na cabeça a ideia de que as pessoas ilustravam as pessoas com deficiência como sendo pessoas deprimidas, totalmente privadas de uma vida normal. E eu não queria ser assim! Eu queria muito mostrar aos Capazes (vide Capacitismo) que não sou uma coitada, que não preciso de olhares penosos para me validar.

E isso continua sim sendo verdade, a questão é que não preciso provar nada a ninguém, vira e mexe, nem para mim mesma. Então o que muda nisso tudo? O foco.

Pois bem, enquanto não mais focarei no aspecto Pornô Da Inspiração da coisa, estarei aqui para sempre mudar quando preciso. No caso como o de agora, o foco girará em torno das minhas experiências e reflexões sociais de forma imparcial sobre Direitos, porque cá entre nós: A independência das pessoas com deficiência está anos-luz longe de ser vista como de fato Direitos.

Não, não sou sua inspiração. Não preciso da sua piedade e tampouco preciso de aplausos cada vez que faço algo cotidiano, apenas estou exercendo minha independência garantida às margens do riacho Ipiranga! 😀

P.S: O termo Pornô da Inspiração (Inspiration Porn) foi visto em uma série de comédia que conta a história do J.J DiMeo que tem Paralisia Cerebral e sua familia. Há uma cena bem legal em que o irmão dele tem de apresentar uma redação e ele resolve escrever sobre como o J.J é um herói, o que é claro, J.J desaprova. Vale a pena conferir a série.



Como não achei a cena especificamente em que isso acontece, legendada, deixo aqui uma TED muito boa que fala exatamente sobre assunto. Não tenho certeza de quem alcunhou o termo, mas fica a dica!



Reminiscência

Dê o play antes de começar a ler. Olhares de ternura, mãos de pluma.  Pureza de criança daquelas que a gente pensa que perde com ...